Quando era criança havia uma brincadeira de trava-línguas que era mais ou menos assim: “O tempo perguntou pro tempo qual é o tempo que o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo que não tem tempo pra dizer pro tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem.”. Nunca esqueci. Não nos dávamos conta de que estávamos a falar de uma dimensão impressionante, que afetaria a realidade de todos nós. À época, dávamos risada.
Hoje, estamos imersos nas incontáveis batalhas de “corrida contra o tempo”, de “reduzir o desperdício de tempo”, de “fazer mais em menos tempo”, como se fosse possível fazer uma gestão perfeita do tempo. A perfeição de dominar o tempo é uma ilusão, obviamente.
Entretanto, por conta deste binômio – espaço-tempo – todos nós precisamos lidar com situações de sobrecarga ou superposição de atividades. Somos, então, obrigados a fazer escolhas. Algumas coisas serão abandonadas ou preteridas. Outras, ganham toda a nossa atenção por fazermos uso de uma escala – subjetiva ou não – de prioridades.
E o intrigante é que para algumas pessoas não é a execução das tarefas, propriamente dita, que incomoda e, sim, o ato de não poder realizar ou ter de se conter para não fazer determinadas tarefas, que pareciam igualmente importantes, mas que escaparam da lista.
Observei, ao longo destes anos de prática profissional, centenas de profissionais sentindo enorme dificuldade de deixar de fazer algo. É uma experiência bastante estressante. E por quê? Porque é muito complexo ter de se dar conta de própria limitação de não ser capaz de fazer tudo. Causa muito mal-estar emocional, sentir-se impotente para vencer a batalha de “apagar incêndios”.
Atribuo essa dificuldade ao traço de personalidade comumente chamado de perfeccionismo. Embora seja um traço que traz excelente vantagem para o aperfeiçoamento profissional e aquisição de destreza, pode, por vezes, se tornar um algoz muito cruel. Querer dar conta de tudo, não deixando nada para trás, fazer tudo direito, correto, perfeito…Uma experiência vivida por muitos.
A sensação de que estamos com dificuldade de gerenciar o tempo, é bem nítida quando pensamos que “tudo é urgente e tudo é importante”. Mesmo aquele que se reconhece como um perfeccionista tem consciência que não é lógico tratar tudo como importante e urgente.
A bem da verdade, o fato é que até as pessoas mais organizadas encontram-se diante de situações de acúmulo de atividades e decisões precisam ser tomadas para realizá-las a contento.
Podemos aprimorar nossa habilidade de construir prioridades ao utilizarmos ferramentas de gestão do tempo tais como: checklist, escala GUT (gravidade, urgência e tendência), a Matriz de Eisenhower.
Podemos ainda, aplicar a visão descrita no livro “Essencialismo” de Greg McKeown, ou adotar as valiosas sugestões encontradas no livro “A Tríade do Tempo” de Christian Barbosa. Podemos avançar no entendimento assistindo o documentário de 2015, dirigido por Adriana Dutra e Walter Carvalho –“Quanto Tempo O Tempo Tem”, com reflexões preciosas de renomados cientistas, filósofos, escritores e que está disponível no momento deste artigo na Netflix.
Ou, então…em uma atitude mais ousada diante de tarefas sem sentido, podemos simplesmente dizer não.
Podemos parar de acumular pedidos sem um plano de trabalho antecipado.
Podemos ainda eliminar tarefas desnecessárias do dia a dia.
É preciso um dar-se conta.
Temos um superpoder escondido que é o de sermos donos de nossa mente e de nossas decisões.
Pense com afinco neste mês de julho, e aceite o desafio de checar a forma como você pode gerenciar melhor o seu tempo. Não precisa ser perfeito. Só precisa da sua energia para realizar algo realmente bom para você mesmo.